Party: ACORDE | DIE VON BRAU • SABRE • KA§PAR

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Party: ACORDE | DIE VON BRAU • SABRE • KA§PAR

DIE VON BRAU | live

O nome é uma sátira. Die Von Brau. Não é inglês, alemão, holandês ou francês. Mas soa bem. Até parece “estrangeiro”. Em Die Von Brau nada acontece por acaso. A sua electrónica instrumental é envolvente, ritmicamente evolutiva, sedosa. Tecno pacificador. Mais do que dança, música para meditar. Pelo menos foi o propósito no álbum de estreia. “Dedico o álbum a Lisboa. É uma forma de descrever a forma como vivemos a cidade, num estado de inércia, de não-fluidez”, diz. É isso. O álbum chama-se Inércia. Edição de autor. E temas com nomes como Príncipe Real, Lapa,Saldanha ou Almirante Reis, geografia afectiva da cidade. O torpor, a indolência, em Lisboa.

Sérgio viveu três anos em Londres. Quando regressou encontrou uma cidade paralisada, gente apática, um quotidiano vazio. E resolveu fazer um disco. Em Londres o perigo de letargia também existe, como reacção ao excesso de estímulos. Talvez por isso, quando estava lá, por oposição, fazia música ambiental. Quando regressou a Lisboa acordou outra faceta. A inércia portuguesa é diferente. “Aqui existe uma calma que é fictícia, que não é real. E isso é nítido quando se chega de uma cidade como Londres, com um ritmo brutal, onde conheces não sei quantas pessoas por dia que te podem dar algo em troca. Aqui não. E isto não é necessariamente um apontar de crítica. É uma constatação.”

Já em Lisboa não criou apenas o disco de estreia de Die Von Brau. Acaba de ser lançado também um outro álbum da sua autoria – Dedication For Project 01. Um disco surpreendente, de apenas uma faixa, de 52 minutos, longa, hipnótica e minimalista deambulação por sons ambientais, camadas de som e de melodias sobrepostas em câmara-lenta. Em Dedication For Project 01 o tempo estende-se, torna-se eterno presente, circular, tudo parece estacionário mas é sempre diferente.

Seja quando aborda as electrónicas mais físicas ou elaborações mais mentais e experimentais, sente-se que o tempo e o espaço são noções trabalhadas com rigor. “A maneira como faço música é repetitiva. Faço um esboço e depois oiço o que fiz até à exaustão.” A construção, apesar do resultado final diverso, acaba por conter pontos de semelhança, seja em Inércia ou em Dedication For Project 01. “O segredo é encontrar aquele ponto em que nos deixamos ir, acompanhando o movimento e deixando as coisas fluir.” Sem inércia.
- Vítor Belanciano in Público

Sabre | live

Não estamos perante um panorama de música portuguesa em que nos possamos queixar de falta de competência. Se é verdade que, com o fenómeno da facilidade das edições digitais ou livres na internet, existe muita coisa a ter algum “lugar ao sol” apenas porque é nacional, são duplas como os Sabre que nos fazem ter fé na exultação da qualidade pela qualidade em si mesma.
Bruno Silva e Carlos Nascimento apareceram como Sabre algures em 2012, mas antes, bem antes, já eram Osso, um projecto de exploração livre por terras de drones e ambiências experimentais. Talvez a ausência da urgência própria das idades das mais tenras possa explicar a absoluta relevância que conquistaram logo com o primeiro EP, “Bali”, que encontrou poiso com a Tasteful Nudes, selo de Chicago dirigida por Steve Mizek. Há no som do duo lisboeta muita maturidade, uma vontade percebida de querer fazer e fazer bem, erguer uma voz própria que, embora deambule por inegáveis influências externas, é indubitavelmente sua. Em “Nightdrive To Bolland” (2013, W.T. Records) encontramos na faixa título aproximações entre o tropicalismo e Detroit, com o lado B a apresentar-nos um lado mais escuro, melancólico e dado a introspecções. Mas a coroação do trabalho efectuado até agora chegou com a edição, já este ano, de “Morning Worship” na Royal Oak, editora subsidiária da gigante holandesa Clone Records de Gerd Janson. São quatro temas de completo ADN Sabre, sem dogmas e com curvas e contracurvas inesperadas. Música aguçada ao vivo no Lux.
- Inês Duarte

Kaspar

Ka§par é prova activa que as noites Acorde não se fazem só de sangue novo. Já elegível para o estatuto de veterano, é mesmo provável que seja um dos mais jovens veteranos do nosso país. Longe vão os tempos onde ainda imberbe tentava a sua sorte a entrar no antigo Frágil, à espera de ouvir o admirável mundo novo do House e Techno. Hoje, é um DJ e produtor estabelecido, activista, homem de convicções. Ele, que a dado ponto chegou a comparar a figura de um DJ carregando as suas malas de discos à imagem do Messias cristão, será para alguns uma figura controversa, mas cujo trabalho e carreira não permitem que restem dúvidas sobre as aptidões que possui. Antigo participante da Red Bull Music Academy, acumulou edições discográficas em selos que vão da bem portuguesa Groovement até às gigantes internacionais Clone, Housewax ou 4 Lux. É actualmente “studio manager” e produtor residente dos Porland Sound Studios e está envolvido na instalação lisboeta da label holandesa Tomorrow Is Now, Kid!, a TINK Music. Chega em formato dj-set para nos mostrar um pouco daquilo que desde 1997 tem todo o prazer em fazer: pôr pistas a dançar. E, tendo já visto e trabalhado pistas de todos os tamanhos e feitios, este regresso ao Lux é garantia de um fecho de noite em boas mãos.
- Inês Duarte

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Sabre

We’re not facing a Portuguese musical panorama in which we can complain of lack of competence. If it is true that due to the ease of digital or free internet releases a lot of music is getting some attention just due to the fact that it’s Portuguese, duos like Sabre help us keep our faith strong in the exultation of quality for quality itself.
Bruno Silva and Carlos Nascimento appeared as Sabre sometime in 2012 but way before that they were Osso, a project of free exploration with drones and experimental ambiences. Perhaps the lack of urgency of younger ages can explain the absolute relevance conquered right away with their first EP, “Bali”, released on Chicago’s Tasteful Nudes, run by Steve Mizek. There is in the Portuguese duo’s sound a lot of maturity, a perceived will of wanting to do something proper and do it well, raising a voice that, even though it strolls through outside influences, is indubitably of their own. In “Nightdrive To Bolland” (2013, W.T. Records) the title track stitches together Detroit with melodies hinting of tropical places, while the B-side shows a darker, more introspective and melancholic side. But the coronation of their work so far has come this year, with “Morning Worship” being released on Royal Oak, a subsidiary of Gerd Janson’s dutch giant Clone Records. There, we can find four tracks of pure Sabre DNA, dogma free and with plenty of unexpected curves along the way. Sharp music, live at Lux.
- Inês Duarte

Ka§par

Ka§par is active proof that the Acorde nights aren’t made up only of new blood. Already eligible for the veteran status, he probably is one of the youngest veterans in the country. Gone are the times when he was still wet behind the ears, trying to get into the old Frágil club, hoping to catch the brave new world of House and Techno. Today he is an established DJ and producer, activist, man of strong beliefs. Having at one point compared the image of the record-case carrying DJ to that of the Christian Messiah, there’s no wonder that for some he is a controversial figure, but whose work and career allow absolutely no doubts regarding his abilities. A former Red Bull Music Academy participant, he accumulates record releases on labels that range from the Portuguese Groovement, to international giants such as Clone, Housewax or 4 Lux. Coming to play a DJ set, Ka§par will be sure to show us a little of what, since 1997, he does with utmost pleasure: take dancefloors by storm. And, having seen and worked floors of all shapes and sizes, his return to Lux is guarantee of a perfect ending to a long night.
- Inês Duarte